Conhecemos muitos revolucionários com idéias de impacto e feitos extraordinários que ultrapassam o contexto de sua época e nos atingem nos dias atuais. Vou fazer o resumo do resumo da biografia de um destes grandes, que sem dúvida, foi o russo Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, apenas com o intuito de despertar curiosidade e fazer os leitores buscarem mais informações a respeito deste grande pensador do século XIX.
Nascido em Premukhimo, 30 de maio de 1814, filho de família aristocrata, Bakunin se viu obrigado por seu pai a começar cedo uma carreira militar que terminou igualmente cedo. Quando partiu para moscou para estudar filosofia, passando então a ser influenciado por Kant, Schelling e Hegel(inclusive, foi o primeiro a traduzir obra deste ultimo para o idioma russo) contrariou seu pai que mantinha planos de carreira militar para ele. Então deixou de lado sua origem e posses de nobre que acabaram sendo destituídas pelo imperador Nicolau da Rússia mais tarde, este que acabou tendo uma carta chamada: "La Réforme", escrita por Bakunin (que residia na França neste momento), denunciando-o como déspota e fazia um chamado
para a democracia na Rússia e Polônia.
Infelizmente, acabou ficando quase 10 anos preso na Sibéria no que na verdade era pra ser sua prisão perpétua quando preso em Dresden(Alemanha) e deportado para a Rússia(por ter participado da Rebelião de 1848). Ao escapar passou por Japão, EUA, Londres, Suíça e Itália onde depois de muitas lutas pelo pan-eslavismo, poloneses e a causa camponesa e operária(além da prisão, é claro), Bakunin se declarou, finalmente, anarquista. Foi ainda, contra varias idéias de cunho comunista ao passo que no passado chegou a escrever artigos de comunismo no periódico alemão: "Schweitzerische Republikaner", alem do que se declarava anos atrás comunista.
Então se filiou, em 1868, a 1a Internacional sendo um dos membros mais influentes até então. Porém, devido a grande discordância de idéias entre ele e Marx (ambos se criticavam veementemente) foi expulso em 1872, com a maioria dos membros apoiando Marx. Bakunin saiu com seus apoiadores com a promessa de fundar uma nova associação internacional com idéias anarquistas (que de fato aconteceu reunindo idéias anti-autoritarias conforme ele pregava). Uma de suas frases críticas as idéias de Marx diz:
"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Isto, de fato, acabou ocorrendo, mesmo com variáveis, em determinados governos que tentaram usar idéias marxistas no século XX. Portanto, as idéias anti-estado, anti-capital e anti-autoridade de Bakunin eram respeitadas até mesmo por Marx que o elogiava abertamente já naquela época e inspiravam o espírito revolucionário, sobretudo nos jovens. Estas idéias atemporais chegaram até mesmo ao movimento Punk, como exemplo da abrangência e vida deste pensamento até nossos dias, mesmo que deturpadas pelos governos que pregavam o anarquismo como caos e desordem, quando na verdade ele representa uma ordem muito maior através de um grau de consciência das massas para se organizar, inclusive, politicamente.
Bem, quanto aos últimos anos de bakunin, já com a cobrança severa pela luta continua, foram na cidade de Lugano(Suíça) onde chegou a fundar junto a estudantes e intelectuais uma editora e publicar grande parte de seus livros sob o título de "Estadismo e Anarquia". Em 1874 participou de uma revolta na cidade de Bologna, a qual não teve êxito (ainda que tenha sido sua ultima incursão em uma).
Em 1 de julho de 1876, já muito debilitado, foi levado para um hospital na cidade de Berna onde faleceu. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Bremgarten, na mesma cidade e é visitado por anarquistas de todo o mundo até hoje.
Nas palavras de seus amigos Carlo Cafiero e Elisée Reclus sobre seu tumulo, descritas no prefácio do texto "Deus e o Estado":
"Uma simples pedra e um nome marcam no cemitério de Berna o lugar onde foi depositado o corpo de Bakunin. E, talvez, muito para honrar a memória de um lutador que tinha as vaidades deste gênero em tão medíocre estima! Seus amigos não farão construir para ele, certamente, nem faustosos túmulos nem estátua. Sabem com que amplo riso ele os teria acolhido se lhe tivessem falado de um jazigo edificado em sua glória. Sabem também que a verdadeira maneira de honrar seus mortos é continuar sua obra — com o ardor e a perseverança que eles próprios dedicam a ela. Certamente que esta é uma tarefa difícil, que demanda todos os nossos esforços, pois, entre os revolucionários da geração que passa, não há sequer um que tenha trabalhado com mais fervor pela causa comum da Revolução. "
Isto denota a grandeza do homem chamado Bakunin.
Outras observações devem ser feitas a respeito de Bakunin:
*Chegou a ser deportado da França por discursar em público contra a opressão russa na Polônia.
*Em 1870, entrou na insurreição de Lyon, um dos principais precedentes da Comuna de Paris.
*Existem também idéias notáveis sobre ateísmo e igreja que vou denotar através de frases como exemplo:
"Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas idéias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja."
"É melhor a ausência de luz do que uma luz trêmula e incerta, servindo apenas para extraviar aqueles que a seguem."
"Se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana: seria o de cessar de existir."
Em seu "Catecismo de um Revolucionário" de 1866, ele se opunha tanto à religião quanto ao estado, defendendo a absoluta rejeição a toda autoridade incluindo aquela que sacrifica a liberdade em nome da conveniência do estado."
Francisco Diego Albuquerque Mesquita
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